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Boletim Informativo Nº 56
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DISSECÇÃO CORONÁRIA ESPONTÂNEA: ENTENDENDO UM POUCO MAIS

Dr João Marcos de Oliveira Júnior

 

INTRODUÇÃO

A dissecção coronária espontânea(deac) é uma afecção rara cuja fisiopatologia e próprio tratamento ainda não são completamente bem estabelecidos. O primeiro caso foi descrito por pretty, em 1931, em um achado de necrópsia.apesar de pouco comum, a deac tem sido cada vez mais discutida e sua abordagem torna-se ainda mais relevante principalmente no cenário de síndrome Coronariana aguda em pacientes do sexo feminino.

 

DEFINIÇÃO E FISIOPATOLOGIA

A deac é definida com uma separação espontânea da camada íntima da coronária acometida. Muitos estudos têm sido realizados no sentido de tentar definir sua fisiopatologia: a dissecção da camada íntima levaria a formação de um hematoma mural, que por sua vez induziria a isquemia local devido a compressão da luz verdadeira. Dois mecanismos principais estariam atrelados à essa condição: o primeiro e mais provável seria a formação do hematoma a partir do sangramento da camada média; a outra hipótese seria o surgimento desse hematoma a partir da lesão sub-intimal.

 

PREVALÊNCIA

Nota-se uma prevalência próxima aos 4% nos pacientes com diagnóstico de síndrome coronariana aguda(sca), porém seu índice torna-se muito mais relevante quando nos deparamos com o sexo feminino nessa apresentação: é a principal causa de sca na gestação e é diagnosticada em cerca de 35% das mulheres com mais de 50 anos de idade. Geralmente encontra-se associada com displasia fibromuscular, estresse emocional, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome anti-fosfolípide e doenças reumatológicas. Sua prevalência é menor no sexo masculino e geralmente está atrelado ao uso de drogas recreativas como a cocaína. Outra diferença notória seria quanto ao aspecto angiográfico, nas mulheres cerca de 75% dos casos o ramo descendente anterior é acometido, enquanto nos homens a coronária direita é mais comumente afetada, cerca de 67%. Apresenta um alto índice de mortalidade próximo a 50% dos casos. 

 

QUADRO CLÍNICO

O quadro sintomatológico cursa com paciente evoluindo com precordialgia e alteração eletrocardiográfica sugestiva de infarto – sintomatologia essa semelhante ao descrito em síndrome coronariana aguda de etiologia aterosclerótica. Dentre os inúmeros cenários clínicos, destaca-se a presença de arritmias e morte súbita (mais comum).

 

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é comumente realizado pela cineangiocoronariografia, podendo ser complementado pela ultrassonografia intravascular(ivus) em caso de dúvida. Observa-se junto ao cateterismo uma dupla luz radiopaca, separada por uma linha intimal.

TRATAMENTO

O tratamento é indicado conforme a apresentação clínica, extensão e localização da dissecção, além da repercussão junto ao miocárdio; no geral, a terapêutica conservadora tem sido amplamente ratificada nos estudos mais recentes como melhor opção, visto que a maioria das coronárias acometidas por deac tendem a uma cicatrização completa com o passar do tempo (média de 30 dias). A trombólise é contra-indicada e o uso de beta-bloqueador tem evidências robustas quanto a diminuição da recorrência da deac. O tratamento intervencionista fica reservado para os pacientes que cursem com instabilidade hemodinâmica, recorrência do quadro ou isquemia miocárdica progressiva.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Narasimham S. Spontaneous coronary artery dissection (SCAD). IJCVS.2004;20:189-91.

 

 

Adlam D, Alfonso F, Maas A, Vrints C. European Society of Cardiology, acute cardiovascular care association, SCAD study group: a position paper on spontaneous coronary artery dissection. Eur Heart J. 2018;39(36):3353–3368. doi: 10.1093/eurheartj/ehy080

 

 

Ahmy P, Prakash R, Starovoytov A, Boone R, Saw J. Pre-Disposing andPrecipitating Factors in Men With Spontaneous Coronary Artery Dissection. JACC Cardiovasc intervent. 2016;9(8):866–868. doi: 10.1016/j.jcin.2016.02.024

 

Motreff P, Malcles G, Combaret N, Barber-Chamoux N, Bouajila S, Pereira B, et al. How and when to suspect spontaneous coronary artery dissection: novel insights from a single-centre series on prevalence and angiographic appearance.

 

Zilio F, Muraglia S, Morat F, Borghesi M, Todaro D, Menotti A, et al. Sex differences in clinical and angiographic characteristics in spontaneous coronary artery dissection. Future Cardiol. 2021;17(4):669–675. doi: 10.2217/fca-2020-0124.

 

 

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